Muito se ouve e lê sobre o estresse diretamente associado ao estilo de vida e à correria dos grandes centros urbanos. Pouco tempo para muita coisa, cobranças familiares e no trabalho, frustrações, descontentamento... Sendo essa a nossa rotina, será que estamos realmente fadados a conviver com doenças como o estresse e os distúrbios de ansiedade? Antes de mais nada é preciso entender o que é cada um deles e quais as suas origens nas nossas relações sociais.
Estresse, um estado de desequilíbrio
Todas as interações do nosso organismo são controladas e equilibradas por meio de enzimas que ativam ou inibem determinada função. No campo da saúde, o estresse é caracterizado pelo desequilíbrio causado a partir de um estímulo excessivo. Isso tanto pode estar associado à repetição de pisadas de uma corrida que “estressam os ligamentos do joelho” e podem gerar dor, como também a questões emocionais.
O trabalho e os relacionamentos afetivos estão envolvidos com o desencadeamento de grande parte dos distúrbios psicológicos da sociedade. Quando eles são moldados por relações de assédio, de extrema cobrança ou risco à vida, produzem excitação emocional, estimulando a produção excessiva de adrenalina, que, por sua vez, causa prejuízos para o nosso corpo e bem-estar.
Alguns organismos podem responder com o desenvolvimento de doenças como dermatite, gastrite, diabetes, hipertensão e até mesmo patologias autoimunes como a psoríase. Outras pessoas estabelecem a sua resposta à situação de estresse no campo social e psicológico, vivenciando síndromes do pânico e de ansiedade.
Ansiedade, um jeito de antecipar um problema
Naturalmente, é preciso entender a diferença entre ansiedade e medo. O medo é uma resposta do nosso organismo a uma ameaça iminente, enquanto a ansiedade é a antecipação desse sentimento de medo em relação a algo que ainda não aconteceu nem está acontecendo no momento. Da mesma forma que se relaciona com questões de risco, a ansiedade também pode estar atrelada a momentos de euforia ou realizações, como o desejo de uma compra, de uma viagem, de um acontecimento.
As relações sociais têm sido extremamente impactadas pelas redes digitais e pelos smartphones. Os aparelhos têm sido utilizados de forma indiscriminada, muitas vezes passando por cima de momentos únicos como conversas familiares, refeições e, até mesmo, horários acadêmicos. As pessoas estão sendo motivadas pela angústia da necessidade de compartilhar o que acontece agora, pensando na quantidade de interação que a sua postagem pode gerar. Ou seja, o desejo de que algo futuro se torne imediato acaba sendo maior do que viver.
As consequências são causadas por ambos os resultados. Se a ansiedade foi concluída com o alcance do que se esperava, o desejo de viver aquele carrossel de emoções pode se tornar um ciclo vicioso no qual a pessoa estará cada vez mais nas redes e menos em trocas físicas, ainda motivada pela angústia de compartilhamento e ansiosa pelo resultado da interatividade. Quando o resultado é abaixo do que incentivava a ansiedade, a frustração derruba o paciente para um estado de baixa autoestima e depressão.
A ansiedade como resultado da recorrência do estresse
De tempos em tempos ouvimos que alguma doença ou questão é o “mal do século”. Nem se passaram 100 anos, mas o estresse parece já abrir passagem a uma nova questão para o cargo secular, a ansiedade. De fato, o estresse é percebido como elemento presente e incessante acompanhante de nossas revoluções industriais e tecnológicas, e, de alguma forma, ele vem abrindo caminho para uma geração que cada vez mais sofre de distúrbios de ansiedade.
Estudos defendem que a constante, duradoura ou intensa vivência de situações de estresse gera um desequilíbrio capaz de promover o desenvolvimento de questões psicofisiológicas como a ansiedade. Cabe a nós, sozinhos ou com a ajuda de especialistas, buscar atividades e relações que nos façam bem e nos afastar de situações que nos desestabilizam de alguma forma.
Fonte
Margis R et al. Relação entre estressores, estresse e ansiedade. R. Psiquiatr. RS, 25'(suplemento 1): 65-74, abril 2003.